16/12/2009

Encontraram o Berçário das Estrelas?

Não é incrível ?

Imaginem que a agência espacial americana, NASA, divulgou nesta terça-feira, 15, imagens captadas pelo telescópio Hubble de centenas de estrelas agrupadas na nebulosa 30 Doradus, uma estrela localizada na região de nascimento na Grande Nuvem de Magalhães (LMC), uma galáxia satélite próxima da Via Láctea. A imagem é a visão mais detalhada do maior berçário de estrelas, chamado de R136, da nebulosa 30 Doradus.

03/12/2009

A solidão da velhice em um excepcional Acabamento -sugestão de leitura-


Publicado no correio Braziliense em 03/12
A velhice é o argumento dos nove contos de Mara Bergamascchi, lançados pela editora 7 Letras. As minúcias deste repertório singular começam na capa do livro. Uma peça de sianinhas vermelhas dispostas em diagonal. E terminam na moldura sépia de desbotadas fotos em branco e preto. O velho pai, sem memória, que vai ao médico, mas pensa estar no Japão. A filha que o conduz e, com tristeza, se lembra da sua imagem numa foto ainda criança, vestido com o mesmo tecido da irmã mais velha. Uma peça de algodão e roupas iguais para a família inteira, como se fazia antigamente. Desde criança o mesmo sorriso bondoso e ingênuo que o acompanha há mais de oitenta anos.
É uma Dona Arlete qualquer, entrevada, a pintar suas unhas com esmaltes cor de salmão. Ela prefere não ter mais espelhos em casa. E se assusta com a própria beleza ao ver as fotos do passado. É o enfastiado viúvo da casa de aviamentos de uma cidade do interior. Este, o conto que dá nome ao livro. Acabamento. Ele vende o que ninguém mais usa: botões forrados, fechoecler, madrepérolas, viés, festões, debruns, ponto russo e rolotês. Tudo o que ninguém quer comprar. Um estoque de coisas em desuso, como sapatilhas brancas de primeira comunhão com desenho de crucifixo dourado. É entre estes vãos de escadas, nas lojas escuras de estoques empilhados, nos fundos dos quintais abandonados, que o olhar arguto de Mara passeia e encontra seus personagens. Os velhos que vivem em velhas casas na companhia de cupins, cujas bolinhas despencam do telhado, se acumulam nos portais e caem pelo chão.
Velhos assustados com o efeito do tempo. Aposentados e esquecidos. Manifestações fortes e comoventes da solidão humana. Mas narradas também com graça e muito humor. O velho sem memória tinha tanta raiva dos políticos que tirava suas fotos dos jornais e as pendurava de cabeça para baixo atrás da porta para lhes atrasar um pouco a vida. Enfim, narrativas que lançam um olhar sobre esta população que aumenta todo ano, a cada estatística feita no Brasil.
A estreia de Mara na literatura se faz pelo conto, um gênero muito difícil que quando se realiza tem a capacidade de abertura para além da simples estória das pessoas comuns. E , como a fotografia, faz aquele recorte necessário no tempo e no espaço. Fragmento de realidade que transporta o leitor para sua própria solidão. Enquanto a literatura infantil atrai autores e floresce em montanhas coloridas e ofertas bem acabadas em tantas livrarias, quase ninguém se atreve a contar estórias sobre os velhos. Assim, num estilo enxuto, sem os recheios desnecessários e as frases de transição. Com o foco na busca da famosa abertura do pequeno para o grande. Este foi o desafio da autora, ou seja, trazer, com energia e sentimento, o recôndito recorte da solidão na velhice. Desde a dificuldade para andar à de realizar coisas mais simples. Como atravessar a rua e pintar as unhas.
A mesma solidão presente no baú do zelador do prédio, uma vida a recolher tudo que os inquilinos abandonam após a mudança. Cabeça de boneca, ursinho sem olhos. No olhar da viúva Ermelinda, que vê da janela de um apartamento novo em folha, a casa onde viveu a vida inteira. Dali de cima, onde não há chão, ela contempla o que um dia foi uma horta e um jardim com flores. Agora tudo invadido pelo mato e a areia. O dono da loja escura faz um pacto contra a solidão. Decide ficar ali para passar o tempo. E continua na rotina, abrindo e fechando, sempre na mesma hora, a porta de ferro do “Paraíso das Costureiras”.
Nas inúmeras categorias do gênero conto, feitas por autores, contistas e ensaístas, há aquela que Júlio Cortázar menciona em “Alguns Aspectos do Conto”. Ele ensina que por ser muito curto o conto precisa sempre ter uma espécie de ímã para, de alguma forma, fisgar o leitor. E Cortázar define o que seria uma categoria de conto que não é nem o fantástico, do qual o próprio Cortázar é um dos precursores, nem aquele de suspense, cujo mestre foi Edgard Alan Poe, mas sim o que ele chama de conto excepcional. Para ele, o excepcional tem “a marca que torna alguns contos inesquecíveis para quem os lê”. Um bom tema, ele diz, “é como um sol, um astro em torno do qual gira um sistema planetário de que muitas vezes não se tinha consciência até que o contista, astrônomo de palavras, nos revela sua existência”. Em nove contos bem curtos, Acabamento reúne estórias de pessoas anônimas em lugares desconhecidos. Que remexem no baú das nossas memórias e relações com pais, avós, bisavôs e bisavós, tias ou tias-avós. Tudo envolvido no “cheiro antigo de pó de arroz e água de rosas”, imagem feita por Mara em Vaidade, o terceiro conto do livro.
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